sexta-feira, 2 de novembro de 2012

faz sentido

Sentada na calçada, o sol ilumina seu sorriso. Falta-lhe dois ou três dentes, mas não importa. Muita gente de sorriso completo não tem c'alma, e ela tem.

O tempo passou.

Observou os passarinhos nas poças d'água, ouviu barulhos de pratos e copos vindo das casas vizinhas, brigas, o som do mundo. Ouviu tudo, a tarde toda. Não se cansou. Esteve durante horas presa em algumas idéias irreais, que sua cabeça perturbava e insistia em fazer sua realidade.

Mas não. Mas sim. Tremenda confusão.

Meio pálida, meio feliz, meio triste, meio morna, o centro de seu universo era o meio de sua loucura. E assim seguiu boa parte da vida. Tentando a compreensão que não lhe alcançava.

Levantou-se, não sentia as pernas.

Lembrou-se do mamão que traçou no café da manhã, dores estomacais começam a lhe fervilhar o ventre, embananou-se, suadeira, medo, tensão, banheiro. E agora? Perdeu-se no desespero e pegou o veículo de massa. Dizem que é público, mas ela paga ao entrar.

Sua bunda suava. Seu cabelo desgrenhava, seu lábio secava, sua cabeça girava no meio de tanta gente. Todos falando ao mesmo tempo. Todos com grandes idéias, grandes ideais, grandezas e mais grandezas. Tristezas, fraquezas, viu de tudo. Sempre em potencial.

O ônibus chacoalhava em alta velocidade. E ninguém percebia o perigo de estar ali. Somente ela conseguiu levantar os braços, dar o sinal e descer.

Amenidades, amenidades - dizia ela. Banheiro! Era tudo de que precisava, amenidades e um bom lugar para cagar.

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