sábado, 29 de agosto de 2009

Para Quando Voltar

Ela me apareceu na porta do 92 num sábado a tarde, toda despida de bom senso e cheia de eufonia para meus ouvidos, não pensei duas vezes, chamei-a para entrar. Ela pulou os ursos de pelúcia espalhados pela casa com muito glamour e respeito pelo meu espaço, comentou que pessoas criativas precisam de bagunça em casa, achei interessante, ganhou-me.

Olhando pela janela, o cigarro aceso, as pernas geladas do vento frio que entrara. Com movimentos calculados levou o cigarro até a boca três vezes e desistiu, jogou o cigarro pela janela, fechando-a em seguida. Voltou-se para o sofá onde servi o café.

Depois daquele café quente, não houve escolha, mais oito cigarros para aquecer a conversa que se estendera noite afora. O apartamento estava defumado de fumaça e novas ideias. Bom Ar, talvez resolvesse à curto prazo.

Estavamos ficando entediadas, ligamos a TV. Aquele acéfalo beduíno do Datena, gritando para os telespectadores sua revolta, deixando nítido que não trepa com ninguém há uns três longos anos. Pobre homem infeliz, desligamos a TV com muito gosto e orgulho de tal decisão.

Saimos rindo e fomos na direção da vitrola empoeirada, não pela falta de uso, mas pela falta de tempo com a limpeza geral, delicadamente ela deslizou sua mão retirando parte da poeira envelhecida no canto do aparelho. Achei graça e continuei a procurar o disco do Vinicius, não achei, ficamos na companhia de Dylan. Ficamos desenhando e conversando, sem olharmos uma para outra.

Antes de amanhecer, Clarete sorriu, mantinha o olhar cansado e jovem, me olhou como quem vai se despedir, fiquei sem graça por não retribuir seu sorriso, olhei meu apartamento e sabia que algo nele mudara, naquele exato momento. Andei depressa para abraça-la e apertei-a contra mim, seus gestos de carinho e suas palavras doces me diziam que voltaria em breve. Eu preciso dela. (só pude pensar) "Eu preciso de você". {Voltei a espalhar os ursinhos pela casa}

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Maria de Todos os Lares e Sua Amiga Vassoura.

No mesmo apartamento musical, ora brega, ora rock, ora silêncio e hora atrasada, ela gira, roda em torno de si mesma, canta inventando letras de músicas, ri sozinha. O Spike está sempre lá, pomposo e jogando seu rabo na cara das moscas, nome de bicha, eu sei, nunca pude fazer nada para ajuda-lo, ele ronrona como um gatinho. O Spike é um ser vivo, digno de algumas maledicências e amor. Vamos maldizer o Spike mais tarde, agora não tem graça.

Minha vassoura, a Clarete, como senti sua falta, ela me ouve, troca em míudos meus passatempos e brinda a vida comigo, adora a música Dancing Queen do Abba, essa música me arrepia, me faz dançar feito louca, loucura classuda, é assim que funciona. Ela voltou!

Eu, Maria de Todos os Lares consigo embocar uma garrafa de cerveja inteira em miléssimos de segundos ao som de Abba, loucura classuda, sempre. Tenho minhas neuras, que vão e vem. "Uma mulher, não nasce mulher, torna-se uma" (brigada, Simone), pensando nisso, e discutindo com a Clarete sobre a essência feminina. Em determinado momento estavamos churamelando, choramingo sem propósito, igualzinho o Spike. Não teve jeito, o negócio foi por a eletrola pra funcionar sem que nenhuma de nós ouvisse a voz da outra, precisavamos sumir.
Dança que o mundo se espanta, samba, rock, folk, brega! Hummmm..

-E a cerveja?

-Pega ali, esta em cima da geladeira.

-Em cima? Por quê?

-Porque eu quero assim, preciso ver a garrafa.

-Ok, cerveja quente.

Em miléssimos de segundos, tudo se foi.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Somos.

Dou meu melhor, e ainda assim..
É incoerente, me deixa vazia. Uma bexiga recém esvaziada em cima do muro.
Subtamente me jogarei no chão. O ar que passará por mim fará o serviço de me manter viva, cheia de febre e vontade de mais.
Me enfiei de cabeça na guerra dos sexos, idiotice, já devia ter passado por isso (momento tardio). Agora vejo com clareza minha neura com as cores. Sou colorida, e principalmente rosa, porque não?
Posso ser fina como uma girafa, mas minha juba é de leão, meu grito é pelo amor, minha vontade é de todos nós.

coração vagabundo.



segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Só De Sacanagem - Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final!